quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Uma perspectiva ortodoxa da Reforma Protestante

"Se Lutero tivesse se lembrado de que a outra metade do mundo cristão reconhecia sete Concílios Ecumênicos, e não dezesseis, e que era inocente dos abusos latinos que agitavam sua alma com justa indignação, então, talvez, ao invés de criar uma nova confissão de acordo com suas noções pessoais, ele teria se voltado à Igreja Universal. 

Ele ainda estava em condições de fazê-lo, uma vez que as convicções das nações germânicas ainda não as haviam levado a uma decisão final, exceto quanto ao ódio ao papa e ao desejo de escapar do jugo arbitrário da Velha Roma. 

Todas as nações que tinham se levantado o seguiriam, e o Ocidente estaria novamente em união com a Igreja, sobretudo porque os resquícios do movimento hussita foram uma das mais importantes causas do sucesso de Lutero, e o movimento hussita, como se sabe, estava repleto de reminiscências e recordações da Igreja Ortodoxa [por exemplo, os hussitas não usavam o Filioque no Credo]. 

Porém, Lutero recusou-se a se lembrar da Igreja Ortodoxa, e estudou não apenas os sete Concílios, mas todos os que os latinos chamavam de “Ecumênicos”. Como resultado desse estudo, Lutero escreveu a Melanchton: “Tenho estudado as resoluções dos Concílios. Eles também se contradizem, assim como os decretos papais. É óbvio que não temos escolha senão basearmos nossa fé somente nas Sagradas Escrituras”. 

Assim estava, portanto, delineada a Revolução Protestante; seu destino estava selado por um mal-entendido; se proposital ou inconsciente, só Deus sabe. 

No século XVII, quando os protestantes enviaram aos patriarcas orientais suas investigações e questionamentos sobre a fé, era tarde demais. A opinião protestante já estava suficientemente solidificada e inflamada com o calor de suas novas convicções e esperanças." 

- Ivan Kireyevsky, filósofo e crítico literário russo, precursor do eslavofilismo cristão